segunda-feira, 9 de maio de 2011

DEFUNTO SALGADO

REPUBLICADO À PEDIDO

D E F U N T O S A L G A D O

Original de Jésus Barreto

Conta-se que em Rancho Alegre, pequeno lugarejo situado a aproximadamente 120 km da sede do município em Caravelas, uma senhora muito pobre de nome Maria Lima, perdeu o marido justamente no dia em que o prefeito do município visitava a localidade.
O defunto estava numa esteira de taboa por ela tecida, estendida num catre formado por um estrado de varas de pau, fincados no piso de chão batido. Das paredes da casa, pelo menos duas, a da frente e da lateral direita, eram de estuque ou sopapo, para quem olhasse de frente; A lateral esquerda e a dos fundos, não mereceram os sopapos de barro: As varas estavam cobertas de uma espécie de plástico.De um lado, na cor azul; Nos fundos de cor preta.Alguns buracos deixavam passar ora os raios do sol,ora os pingos da chuva.O tempo estava como diziam por lá,”lusco-fusco”. O telhado tinha umas telhas de madeira em quase toda a extensão da casa.Só uma pequena parte era coberta por 3 ou 4 telhas de cimento amianto.
O vento que entrava pelas frestas da parede da cozinha, impelia a fumaça do velho fogão de lenha no rumo da sala, onde os que velavam o falecido choravam mais pelo ardor da fumaça nos olhos do que pela perda do “Seu” Zé”.
Uma “meiota” encorajava o papo dos presentes: Cada um a seu modo dando sua versão das boas qualidades do amigo perdido.
--“Zé era o melhor no corte de cana” _ Dizia um
_ “Não tinha igual para destocar a mandioca”—Falou Quinzinho.
-- “ Inté o doutor prefeito elogiou ele na plantação de “eucalipi”” Ajuntou Tião do Jegue.
--“Vosmicê agora me clareou a cabeça - Disse dona Mindinha - Eu estou aqui matutando como comadre Maria vai arranjar o dinheiro para fazer o enterro... “
--“Comadre Maria ! Comadre Maria"!? –Gritou.
“A senhora aproveita que o prefeito de Caravelas tá aqui em Rancho Alegre hoje visitando a escola Francisco Henrique e pede a ele para arranjar uns trocados “ pro-mode” de enterrar compadre Zé.”
Maria, cabelos em desalinho caídos até quase a cintura, olhos já cansados de tanto chorar, fisionomia abatida e pálida marcada pelo sofrimento,vestia uma saia verde que lhe caia logo abaixo dos joelhos, presente de uma crente que vivia lhe convidando para “aceitar Jesus” e frequentar sua igreja, onde dizia, aconteciam verdadeiros milagres.Não aceitara o convite ainda porque não conseguia largar o vício da bebida.
“Uma pingazinha ajuda a enfrentar a dureza da vida” - Dizia.
Os pés estavam no chão mesmo.A sandália que tinha, “pocou” a tira numa topada no calçamento novo lá perto da pracinha.
--Maria pediu para a comadre servir mais uma “ meiota” para os presentes e lá se foi, avoada, procurar pelo prefeito.Enquanto se aproximava da escola, pensou consigo mesma que afinal, apesar da morte de seu marido Zé, pelo menos poderia lhe dar um sepultamento decente.O marido já trabalhara para o atual prefeito que mantinha uma fazenda na região.
E este estava ali, a poucos passos dela.
--“Seu” prefeito !?: Zé morreu esta noitinha e eu vim aqui pro-mode de o sinhô me dá um dinheirinho para enterrar o pobre...”
__ "Dona Maria, eu sinto muito pela morte de seu marido,mas não posso lhe dar o dinheiro, de jeito nenhum.A senhora quer que eu perca meu mandato ? Prefeito não pode sair por aí
Dando dinheiro para o povo não ! O tribunal de contas me proíbe isso".
-- “Mas seu prefeito, como vou fazer ? Sou fraca, não tenho condições de fazer o enterro de meu marido.”
--“ A senhora faz o seguinte: Amanhã cedo a senhora pega um ônibus, vai em Caravelas, procura a Secretaria de Ação Social que lá vão lhe ajudar. Pelo menos o caixão eu "agaranto" que eles vão lhe dar. Ação social é pra isso”. Disse o prefeito.
--Mas seu prefeito até eu ir lá a Caravelas, resolver o assunto e voltar vai demorar muito.Pelo menos mais dois dias.” Disse.
--“Não posso fazer nada. A senhora quer que eu seja preso ?” Falou o prefeito.
-“ Não sinhô, Deus que me livre, Ave-maria!...Mas então será que o sinhô me arranja pelo menos uns três Reais ?” Falou Maria.
--“Prá que ? Prá beber cachaça ? Não senhora!” Disse o prefeito.
--“ Não sinhô, vou “inté” virar crente agora que o Zé Morreu: É para comprar 3 Kg de sal .”
--"Prá que sal" ? - Perguntou o prefeito_
- “ É pro-mode de “sargar” o defunto “inté” poder enterrar !"

FIM

PS - Os nomes dos personagens foram trocados. Quanto a história os moradores do lugar juram que aconteceu. Pelo sim pelo não, foi assim que me contaram. O nome do prefeito? Ih...! Não é que me esqueci de perguntar?
Postado por A Beira do Aracaré às Terça-feira, Maio 03, 2011

Reações:
1 comentários:

Anônimo disse...

Hehehehe
Prefeito, eucalipto, Rancho Alegre? Eu juro e continuo Juran dooooooooooo que voces ja sabem quem é.

ABEIRA DO ARACARÉ

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